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Pelotas, RS, Brazil
Atriz, aventurando em produções artísticas independentes e dependentes. Bacharel em Interpretação Teatral (UFSM). Professora de Séries Iniciais (Magistério). Gestora Geral do Teatro do Chapéu Azul - Realizações culturais. Idealizadora do PIQUENIQUE CULTURAL e do FESTIVAL DE INVERNO DE PELOTAS. Há também o CENARUA - festival de Artes Cênicas na Rua em parceria com a Dalida Artísticas Produções.Estudou Desenho Industrial e Vestuário - não se formou, mas aprendeu bastante. Aprendiz de cartomancia, astrologia, numerologia e algumas outras "ias". Fala demais. Ri e chora quando necessário. Não se conforma com algumas coisas no mundo. Já tentou se envolver em política, religião e futebol. Cozinha bem. Gosta de beijos longos e abraços quentes. Nunca saiu do Brasil, mas quer dar umas voltinhas. Pouco saiu do RS. Morou 9 anos em Santa Maria/RS. Gosta de escrever e cantar. É filha única. O ócio a interessa também.

sábado, 17 de janeiro de 2015

Não mais me comovem tragédias coletivas
Há tempos não acompanho tais notícias
Não me serve saber de mortes humanas
Tenho desejado a ilusão alienada das delícias

Queria ser passarinho e pousar onde fosse cantar
Então voar novamente e achar lugar para meu canto
E depois de outro canto, outro ponto para descansar.

E se um gato viesse cumprir sua instintiva razão
de felino frente a pássaro viajante, eu nada faria
e o destino simplesmente a profecia cumpriria.


Sem noticiário, sem flash, sem mídia, sem jornal
Só o vai e vem do que entendo como vida
Só o mínimo existir como ordem natural.

Facebook. a poesia

No que eu estou pensando
Pergunta o inquisidor
Dizendo a verdade não ando
Desculpe-me, nobre senhor.

Invente, não há problema!
Diz-me o amado carrasco.
Informe tudo em uma cena,
Misture tudo em um frasco!

Sabes bem, meu caro amigo,
Já não ouso lhe esconder:
Nem tudo que penso, digo
Nem tudo é de dizer

Para agradá-lo, no entanto
Digo tudo que te anima
E assim, como um encanto
Vou te embaçando a retina.

Eu penso no passarinho
Que agora a noite abraça
Ele constrói os seus ninhos,
Espalha sons aonde passa

E penso no pensador
Nas suas frases certeiras
Em imagens multicor
Que seduzem de primeira

Meu pensamento também
Passeia pelo jornal
Igualdade muito aquém
Do que seria normal

Sei que tudo isso te agrada
E esse é teu alimento
Porém, a verdade é sagrada
E ela nem mesmo comento

Penso e não lhe aviso
Disfarço pra compensar
Imprimo um grande sorriso
Dou formas ao caminhar

Digo-lhe o que quiser
Divido tudo o que digo
Admiro o que puder
Ignoro o sem sentido


E assim vamos mantendo
Esta farsa masoquista
Me perguntas o que penso
Te dou só algumas pistas.

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Facílimo


Poemas de amor são bem fáceis:
Saem aos montes e sem esforços
Moldam
No papel, com a caneta
Na tela, com o  teclado
Toda uma série de desventuras
Ou felicidades
Normalmente, dores
São mais inspiradoras...
E se passar do amor egoísta
Este que só diz respeito a mim
Esse que ninguém comigo divide
por desconhecer ou por não
querer se comprometer
Se passar a pensar em como
as coisas estão difíceis por aí
Que os outros também tem suas dores
Seu salário de merda
Suas dúvidas entre os sonhos e as fomes
De comida, teto, transporte, roupas
Se parar pra pensar na crise do capitalismo
E tudo o que teremos que passar pra chegar lá
Num lugar-coisa-estado que nem sei se valerá
Se pensar
Na dura vivencia do faminto
Do celibatário
Do doente
Do atormentado
Do televiciado
Do televisionado
Se eu parar pra pensar
Que pessoas vivem não pelas outras
Mas das outras
Que a exploração chegou a tal ponto
Que eu só como se eu tenho
Que eu só vivo se não for
Nada que atrapalhe os planos
daqueles que vivem de mim
Se eu parar pra pensar nisso tudo
E escrever sobre tudo
Não haveria papel, tela, caneta, teclado
Não haveria nada
Capaz de comportar a dor.
Por isso que digo
São mais fáceis os poemas de amor.

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Aquática


É o vidro do aquário, olha!
Há borbulhas por aqui...
Flutuas, charlas
O tronco esguio, a mão ágil...
E no transparente do aquário
Caminhos que se encontram
Antigos bisquis trincados
Cola forte pra reconstruir.
No cheiro do café aquático
Lembrança do que não veio
E eu no meio
Do que queria ter
Te vi.

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Trapiche

Ela estava lá. O cabelo rebolando no vento forte do inverno. Esperava por ele havia alguns anos. Digo: naquela manhã a espera durava apenas alguns minutos, mas já há alguns anos, quase todos os dias esperava na ponta do trapiche.  Invadindo a lagoa, esperava por ele e por seus cabelos que iam diminuindo de exuberância e volume a cada dia. Não se importava com isso.
Ele e seus passos lentos. Como aquele homem que andava sobre as águas, andava ele também. Sobre uma planície de madeira, a seu modo, ele também andava sobra as águas. E a via, de costas, cabelos rebolantes. Próximo dela se sentia mais ele. Ela lhe permitia isso.
Ainda sem o olhar, mas percebendo sua presença, ela disse e sua voz assobiou como o vento frio:
-Queria ser um peixe.
Ele não pode deixar de lembrar de uma música popular qualquer  que também dizia isso. Riu-se:
-Por que dizes isso?
-Peixes não amam.
Aproximou-se por trás e enlaçou seus ombros em um abraço.
- Como sabes?
- Sei lá.
E virou-se. Olharam-se.
- Pra mim, és uma sereia.
- Sereias não existem.
Sorriu. Ele viu um sorriso triste. Anos a fio, amor feito às pressas, sobre as tábuas geladas, chuva ou sol, ali estavam todas as manhãs. Pela manhã era mais fácil disfarçar. Agora isso já não bastava. Faltavam os passeios entre os outros, o título de propriedade, a prole.
- Não importa, és minha sereia.
Tentou com isso desviar a atenção dela, que, já de costas novamente, olhava a lagoa que vomitava gotas em seus pés. As tábuas molhadas apodrecendo lentamente, assim como ela.
Desvenciliou-se repentina, porém lentamente. Tirou o casaco.
-Segura.
Ele não entendeu, o frio era grande, cortava. Ela, sem nada por baixo, dorso nu. Deixou uma pesada saia de veludo negro deslizar.
- Estás louca?
Pulou. A água gemeu.
-Se me amas como dizes, pula!
Apressado, ele tirou a roupa, muitas roupas e atirou-se.
Desapareceram.  A lagoa que tantas vezes presenciou o amor apressado os acolheu em suas águas frias.
O carro permaneceu estacionado a alguns metros da orla. As roupas espalhadas quase na ponta do trapiche, quase dentro da lagoa, mas acima dela.
Corpos nunca encontrados.

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Éramos - da poesia à música

Éramos*

Éramos nós,
éramos mesmo só nós dois
Éramos um
e se era um só, era nenhum
E era assim
um mundo inteiro só pra nós
e mais ninguém

Éramos nus
na nossa nudez libertina
Éramos uns
que vivem livres cada sina
E era assim,
como beber cachaça fina,
a nossa paixão

Éramos sim
mil foliões no carnaval
Éramos fim
quando o cansaço era fatal
E era assim
sempre uma festa habitual,
nunca de cinzas

Éramos cio,
noites adentro sem parar
Éramos rio
fluindo em direção ao mar
E era assim
eterno e perfeito gozar
o nosso amor

Éramos mais,
éramos fome, éramos paz
Éramos cais
éramos sorte, éramos az
E era assim
nunca sequer olhar pra trás
Éramos nós

Não sei dizer
quem disse o primeiro adeus
Mas se existe
coisa q eu possa chamar deus
ela é que insiste
em abrir meus olhos para que eu
esqueça os teus.

*Esta é a poesia que escrevi e que mostrei a Janete Flores, que a musicou e a letra ficou, então com música, assim:



terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Poemas para amores esquecidos

ÓBVIO
(2000)
Para C.

Deixa de lado
Toda a problemática
Existencial
E não te abala
Com o óbvio.
Deixa que ele seja
Cada vez mais
Claro
E que eu
- sombra -
Vire luz
Deixa que o óbvio
Se estabeleça
E cresça
Com a intensidade
que o inevitável
Deve ter.

***

CARÍCIA
(2000)
Para C.

Acaricio teu nome
Nas folhas de papel.
Então, te escrevo,
te procuro...
Letra a letra
te gosto mais.
Acaricio teu rosto,
tua boca, tuas mãos,
teus cabelos...
És todo meu
quando escrevo
teu nome...
Rabisco novamente...
Deixo a caneta deslizar
(ela já sabe o que fazer!)
Vou acariciar teu nome
até clarear o dia.

***

LIMITES
(2001)
Para C.

E o que restou
Se nada se deu
Além dos limites
De uma manhã
Gelada e apagada
Pelo delírio de não se saber ou querer
Relacionar almas,
Mas somente corpos?

***

RESSURREIÇÃO
(2006)
Para R.

Por que morro nos teus olhos
Se só eles me ressuscitam?

***

EMBORA QUISESSE FICAR
(2007)
Para R.

Eu ficaria mais um pouco.
Mais uma hora.
Mais um dia.

Mas eu me fui.
Feliz, até. Feliz.
Sem pensar em nada
Além do que pensei
Durante todo o dia
e também em outros
e outros antes dele.

Eu me fui, eu voei
Pra qualquer lugar que
me impedisse de voltar,
pedir ou gritar.

Sempre falta alguma coisa.

Ah, gentes que não sossegam!

***

(2009)
Para R.

Há qualquer coisa
nesse olho
nessa mão,
nesse toque
Qualquer coisa
que grita
coisas
Inaudivelmente
Gritantes.

Há no teu silêncio
O grito inaudível
Dos que
não se permitem
Qualquer coisa
que expresse
Qualquer coisa.

e não diga que não
Nessa boca
apertada
A frase calada
Que quer expulsar
Ou trazer pra si.

Coisa indecisa
E imprecisa
O silêncio
O olho vago
A mão inquieta
Há.

Outrora...



O que está escrito abaixo faz parte da leva de 2006, ano duro. É mais ou menos auto-biográfico. Excluindo os telhados, acho que seria totalmente...
Aí esses dias um cara leu e disse que era bom. E talvez seja mesmo, porque foi até publicado...
Enfim, um dia a vida foi mais ou menos assim...


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UMA NOITE QUALQUER IGUAL A TANTAS OUTRAS

Chovia. E enquanto a chuva deslizava pelos vidros de sua estreita janela, podia ver o que não queria. Os trovões, por mais altos e assustadores que pudessem ser, não podiam abafar o som de sua alma gritando palavras desconexas. Um amor que não se concretizou e nunca se concretizaria. Seu peito se encheu de sangue. Suas mãos choraram suor. Estava louca. Apaixonada. Encurralada.

A chuva doía nos ouvidos. O amor doía no coração. Havia em si não mais um ser vivente, mas um eterno cadáver a rastejar e latejar, inconseqüente. Atirou-se pela rua, clamando ser socorrida. Mas o que lhe ofereceram foi desprezo:
- Descontrolada.

Apoiou silenciosamente os que sobem em telhados e gritam o amor profundo como ridículos oitocentistas - até mesmo pensou em se unir a alguns deles, caso os encontrasse. Mas a chuva não deixava ninguém ir ao telhado naquela madrugada eterna.

Baixou o nível: pediu a Deus. Já não havia o que desejar. O coração gemeu. Um gemido que inundava seu interior e não deixava espaço para qualquer outro pensamento.

Inspirada não sabe em quem, cantou uma música fúnebre. Já não havia esperança com a qual pudesse tentar pensar em ver uma luz qualquer... A chuva tapava qualquer brecha. A chuva que caía na rua. A chuva que caía por dentro.

Bebeu. Chorou mais que as nuvens. Ridícula. Ainda tentou entender porquê fez tudo errado. Porquê fez com que pensasse que ela não era ela e sim uma pessoa que não queria ser amada.

Agora, arrancando os cabelos enquanto vomita e chora diante do espelho, percebe a burrice que cometeu desde o primeiro dia que o viu. E não consegue esquecer e se perdoar. Talvez nunca consiga. Pensa nisso e lava o rosto. Bebe o último e decisivo gole.

Quando acorda no outro dia, o travesseiro molhado. Não sabe se é baba, choro ou a chuva. Só sabe uma coisa: é dor. E das mais doídas.

quinta-feira, 13 de março de 2008

A cigana leu o meu destino

Quando eu era criança, sempre quis desfilar em uma escola de samba. Minha mãe nunca deixou, acho que com medo que algum mascarado me carregasse no fim do desfile... Nunca ouvi um caso desses, mas mãe que é mãe acha que todos sempre estão mascarados quando estão perto dos seus filhos... Isso vale até hoje...
Mas sempre amei toda a movimentação, o brilho, a festa em si. Sempre freqüentei quadra, desfile, ensaio, batuques em geral.
*****
Não me venham falar em ópio do povo às avessas.
Sim, está deturpado. Sim, perdeu muito de seu brilho, do que seria o “popular” de verdade. Mas o que der para salvar, salvemos. Porque ainda dá tempo. Ainda é tempo. E se pensarmos bem, ainda tem muito do que era...
Já leu Cultura popular na Idade Média e no Renascimento, do Bakhtin?. Vale a pena. E dá pra se ter uma idéia do que ainda sobrou daquilo tudo. Uma abordagem mais precisa do papel do carnaval na sociedade brasileira é Carnavais, malandros e heróis, do Roberto da Matta. A discussão é mais próxima da nossa realidade.

Obviamente que o Carnaval não surgiu na Idade Média e muito menos no Brasil do século XIX ou XX.

É preciso levar em conta as manifestações anteriores ao cristianismo existentes em várias partes do mundo, todas ligadas ao aspecto fundamental da existência humana: viver e viver bem. Comer e beber. Procriar. Renovar-se. Ter prazer depois do trabalho duro. E desse prazer tirar forças para recomeçar o trabalho. Para de novo poder parar de trabalhar e agradecer aos deuses comendo, bebendo e trepando muito. Basicamente isso... É que essa é uma história tão grande que eu deveria criar um brog só para discuti-la - se fosse o caso, mas não é.

******

De qualquer forma, falar do carnaval me deixou feliz e motivada, ouvindo lá no fundo de mim duas músicas que se completam e que fazem parte da minha história carnavalesca: É hoje e O amanhã.



terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

A morte do cão

Hoje eu vi aquele episódio de Os Simpsons: Cão de Morte (nº 54, 3ª temporada).

Nele, o Ajudante de Papai Noel, cachorro dos Simpsons, fica doente e necessita de uma cirurgia cara.
Para pagar o tratamento, cada membro da família economiza em algumas coisas. A cirurgia é feita e o cachorro fica curado.
No entanto, todos os Simpsons sofreram algum tipo de dano devido às economias feitas. Quando o cachorro volta para casa, eles estão com raiva por causa disso e deixam de dar atenção a ele.

Numa noite, ninguém fecha o portão, mesmo sabendo que o Ajudante do Papai Noel pode fugir.
E ele foge.
(Essa sequência é ótima, pois aparece o cachorro por entre bosques, salvando crianças de incêndios, atravessando rios, trepando, matando um urso. Ou seja, ele vive mil aventuras)
Depois de certo tempo ele é capturado pela carrocinha de Springfield.
O Sr. Burns, que queria substituir um de seus cães de guarda ferozes, escolhe o Ajudante do Papai Noel para ser seu novo cachorro. Mas o cachorro não é nem um pouco feroz. Sr. Burns parte para uma lavagem cerebral, tornando-o um sanguinário.
Com a fuga do cachorro, os Simpsons se dão conta da falta que ele faz na família e decidem procurá-lo.
Bart resolve bater em todas as portas atrás do Ajudante. Ao chegar a casa do Sr. Burns, Bart dá de cara com seu cachorro. Mas ele está mudado e vem correndo com os olhos de monstro pra cima de seu antigo dono.
Nesse instante, Bart está apavorado e grita, olhando fundo nos olhos feios do cão: O que é isso, cara, eu te amo!
Aí vem a parte mais tri do filme! A sequência de lembranças do cachorro em relação a Bart é maravilhosa: Bart dando comida a ele por debaixo da mesa, andando de skate com ele amarrado pelo pescoço acompanhando...
Por fim, o cachorro volta pra casa e é tratado como um rei.
******
Tá, eu sou uma besta mesmo, mas chorei vendo esse episódio - só eu mesmo...
Mas não é bem assim...
Eu também tive um Ajudante de Papai Noel. Chamava-se Linda.
E era linda mesmo! Viveu quase 15 anos e sua morte foi como se um buraco negro se abrisse na minha frente. Só me conformei porque ela estava velhinha. O ápice de sua doença cancerígena foi terrível. Em um mês ela definhou e na sua última noite ficava parada em frente a uma parede olhando pro nada. Dramático.
******
Eu ainda morava em Pelotas. Eu tinha 16 anos e ela, 4. Um dia cheguei em casa depois das aulas ( sim, eu freqüentava aulas nessa época, dois cursos, estudava manhã, tarde e noite - por isso hoje eu me vingo...). Minha mãe havia dado a Linda. Tive um troço. Chorava desesperada. Afinal, minha mãe deixou bem claro que aquilo era resultado da minha negligência com o bicho - talvez ela tivesse razão, dessa parte não lembro bem, hehehe...

Minha mãe me disse que havia dado o bicho pra um feirante que havia estado na minha rua naquele dia.
Não tive dúvida! Era uma segunda-feira. Na terça, me acordei às 5 da matina e liguei numa rádio AM que dava o itinerário das feiras livres daquele dia. Anotei tudo e parti, de bicicleta, atrás dos feirantes que haviam estado na minha rua no dia anterior.
Resumo: logo encontrei os feirantes que eu procurava, mas um deles havia faltado naquele dia. Sem problemas. Quarta-feira lá estava eu para falar com o homem, do outro lado da cidade.
Não, ele não tinha levado cachorro nenhum. E eu chorei mais ainda. Na frente do cara, no ônibus de volta pra casa, na frente das minhas colegas, das professoras, do mundo inteiro, enfim.

Minha mãe, irredutível, só vendo meu sofrimento.
Tanto infernizei que ela abriu o jogo: havia dado a Linda pra um acompanhante de uma criança doente do hospital onde ela trabalhava. Ela tinha algumas informações sobre o endereço do cara.
No outro dia, fomos atrás - ela também estava com saudades.
Resumo: não encontramos. E olha que eu gritei na rua, bati em casas... NADA!
Voltei desalmada. Um buraco no peito, no cérebro, no cu, em tudo. Eu era um buraco ambulante.
******
Passou-se um mês mais ou menos. Lembranças, choros e velas e nada da cadela...

Estou eu bem bela na janela do meu apartamento quando passa um mandinho vizinho meu. Ele grita:
- Ô Aline, o que a Linda tá fazendo lá no Obelisco?
Quase caí dura, quase voei pela janela, não conseguia raciocinar. Obelisco era o bairro onde eu a havia procurado sem sucesso.

Munida de uma mochila, uma lista telefônica com um mapa, comida, boné e tudo mais, parti em busca da cadela. O guri me deu o lugar certinho onde ela estava.
Fui de ônibus (dois), mas teria que voltar a pé com ela. Era longe, mas dava.
Cheguei no lugar, meu coração saltando pela boca. Gritei, gritei chamando e NADA! O lugar descrito pelo piá conferia. Cadê ela?

De repente, eu já quase desistindo... Ela aparece, num pátio. Quando nos vimos - eu nunca vou esquecer - foi mágico. Eu já comecei a chorar na hora, me agarrando no bicho por entre as grades.
Quando a dona da casa apareceu deve ter pensado que eu era uma louca. Chorando compulsivamente, me agarrava no pescoço da cadela.
A mulher ficou assustada. Eu só dizia: Vim buscar minha cachorra.
Nem perguntava nada pra mulher: era ELA e ela era minha e eu dela e pronto!
A mulher rapidamente concordou em me devolver a cachorra. E eu me fui, feliz. Eu voei!

Aí vinha o problema: atravessar a cidade com o bicho. Mas eu carregaria ela nas costas se ela se cansasse. Não estava nem aí pra nada. Não havia empecilho nenhum. Só felicidade e um coração sorrindo!
Só que o sol estava forte. Os lugares por onde eu passaria para cortar caminho não eram muito aconselháveis pra uma adolescente (mesmo protegida por seu cão)... Mas a gente foi.

No meio de uma estrada praticamente deserta, passa um FIAT 147. Não tive dúvidas: pedi carona. Pararam. Era um casal representante de vendas. Vendiam papel de seda e fumo nos butecos das vilas em volta. Contei minha história, eles se comoveram e lá fomos nós, eu e a Linda, no banco de trás do carro. Passei por, no mínimo, 20 butecos. Butecos mesmo. Tábua e chão batido, casebres.
Como eles iam pro meu bairro, estava tudo certo.
Depois de umas quatro horas sacolejando no 147, finalmente chegamos.
Melhor: no bar que ficava embaixo do meu apartamento (eu morava numa Cohab, a pior da cidade, o temido Pestano - hehehe).
Quando minha mãe chegou do serviço também chorou de alegria. E me agradeceu.
******
Vivemos felizes, as três, até eu vir pra Santa Maria, em 2000.
Em 2005 minha mãe veio morar aqui também e eu pude aproveitar por uns dois anos o amor sincero da Linda.

Às vezes sonho com ela. Nesses sonhos eu a abraço bastante e, mesmo sabendo que ela está morta, chego a sentir seus pêlos pretos roçando em mim. E, nesses sonhos, eu sou feliz de novo.
Depois eu choro um pouquinho.
Mas não muito, porque, como diz a Marge no desenho: Existe o céu dos cachorros.

Eu ando fazendo umas cachorradas pra ver se vou pra lá um dia.
Mas - como não tenho pressa - no dia de sua passagem pro céu dos cachorros, cortei uns pêlos pretos para uma eventual clonagem.

Linda aos 14 anos, vivendo em Santa Maria.



PS. Eu avisei que falava pra caralho!

domingo, 24 de fevereiro de 2008

Ô abre-alas

Sim, recém hoje criei coragem para divulgar realmente o meu brog. Ou seja, abri-lo aos demais. Publicar no orkut, por exemplo.

(Usarei o termo "brog" ao invés de "blog". Para dar um tom mais caipira, mais brasileiro mesmo. Que bobagem...)

Já haviam me dito que ter um brog era ter um carrasco no seu pé todo o tempo. Achei um exagero. De certa forma, consigo compreender agora o que isso quer dizer.
Já expus aqui minhas inseguranças em relação ao "que" e ao "como" escrever aqui.
Mandei todas às favas.

Minhas listas estão incompletas: links, discos, livros... Tudo em construção.





Vou indo... Construindo e destruindo. Escrevo, apago, me torturo por não saber mexer direito nisso ainda...

sábado, 16 de fevereiro de 2008

O ursinho carinhoso que não comia batata frita

Eu não entendo nada de música estrangeira. E, a bem da verdade, não procuro entender. Nunca pergunto nome de banda ou cantor. Não sei quem está fazendo sucesso atualmente. Não sei nada.
Essa falta de interesse talvez seja reflexo da minha formação musical.

Devo muito dela a minha tia-madrinha. Durante toda a infância ouvi muita música brasileira: Maria Bethânia, Roberto Carlos, Nelson Gonçalves, Chico Buarque, Gil, Caetano Veloso e mais uma porrada de gente legal... Muito chorinho, samba, violão e dor-de-cotovelo.

Tudo isso é muito lindo, mas não posso deixar de registrar aqui o disco que mais povoou minha imaginação infantil. É um disco de Jair Rodrigues, com regravações maravilhosas. Chama-se Carinhoso - As mais belas canções românticas brasileiras (1983). Era da minha tia. Quando ela foi pra São Paulo, há 20 anos, levou consigo. Há uns dois anos achei um vinil num sebo. Custou R$ 2,00. Baratíssimo, embora nem todo o dinheiro do mundo pudesse pagar o que ele significou na minha vida. É um disco muito bacana! O encarte com as letras das músicas é um caso de amor a parte. Abaixo de cada título, um breve resumo da história daquela música.

Bem, todo esse blablablá em torno do tal disco é que com ele conheci músicas maravilhosas que tenho prazer de ouvir e cantar até hoje - como a canção-título, Carinhoso. Vingança, Canção de amor, Cadeira Vazia, Cabelos Brancos, Molambo, Último desejo... são eternos exemplos de música boa. No entanto, a mais-mais pra mim era, na época, Ronda.

*******
Quando eu tinha uns cinco anos, minha mãe costumava ir a uma lancheria que tinha música ao vivo. Lá, imagino eu, reunia-se quem deixava o trabalho no fim da tarde.

E dê-lhe teclado! O pessoal conversava e o cara se estribuchava cantando sucessos populares da época (tipo o que tocava no rádio mesmo, nada experimental ou virtuosístico pelo que me lembro). E o que eu fazia lá? Bem, minha mãe é solteira. E ali era o lugar apropriado para conhecer outras pessoas e bater papo com os amigos. Eu tinha que ir junto, pois ela me buscava no colégio e não tinha com quem me deixar. Era um bar familiar, eu conhecia todo mundo, conversava em todas as mesas, totalmente enturmada...

Lembro do dia que o cantor disse: "Esta eu vou oferecer pra uma amiguinha minha que me acompanha em todas as músicas!" (Eu ficava cantando lá da mesa...) e tascou Superfantástico, do Balão Mágico, um mega sucesso do momento.

Não deu outra, fui lá no cara e pedi pra cantar também, no microfone, claro. A música que eu escolhi foi "Ronda". A partir desse dia, cantava sempre. E só esse tipo de música, música de adulto mesmo, principalmente as dos discos que eu tinha em casa.

Comi muita batata frita às custas dos bebuns que achavam a coisa mais linda um toco de gente cantando "cena de sangue num bar da avenida São João". Eu adorava tudo aquilo, conversava com todo mundo, passeava por tudo lá dentro.

Até aí, tudo bem. Música velha era comigo mesmo, o pessoal pedia e eu cantava, tinha gente que ia no bar só pra me ver. Verdade!

Tudo mudou quando resolvi ampliar meu repertório, incluindo um clássico do Balão Mágico: Ursinho Pimpão. Estava lá, microfone na mão, a platéia me olhando e então, pra surpresa de todo mundo... esqueci a porra da letra da música.


Nunca mais cantei em público na vida!

Nunca mais esqueci como me senti naquele momento!

Nunca mais comi batata frita de graça!


PS: Fiquei triste por não ter conseguido as gravações do próprio Jair, mas continuarei procurando e edito na sequência, se for o caso.
******
Pra começar a entender:
Pra ouvir:

Não diga que não avisei

Faz quase um ano que criei este brog.
Nunca publicava nada, protelando ao máximo o dia que teria coragem suficiente para oferecer meus rascunhos à apreciação pública.
Sempre achei que ninguém teria interesse de ler qualquer coisa que viesse a declarar aqui.
Ainda assim, caso alguém lesse, receava ser linchada pública ou virtualmente. Ou pior: criar um séquito de seguidores que não me dariam paz nem para ir ao banheiro. (Isso é que é se achar importante!)

Enfim, resolvi começar a abrir meu baú - que às vezes parece mais um papa-entulho. Nele eu não encontrei nenhuma verdade imutável. Nada de definitivo. Vou me permitir divagar sobre o que quiser, quando e pelo motivo que me interessar... Sim, nada de utilidade pública, não: apenas satisfação pessoal.

Se gostas de cachorros, poesias, teatro, dor-de-cotovelo, música brasileira, filmes bestas, livros, novela, gibi, quadrinhos, grandes personalidades da história mundial, sexo selvagem, samba, gays, brinquedos, cerveja, pintura, cultura de massa, tias, vinis, calendários, moedas antigas, televisão, festas, renúncias, incêndios, croquetes... Talvez eu escreva sobre isso um dia. Também posso fazer fofocas, destruir famílias ou simplesmente te fazer chorar por não ter uma versão impressa de tudo isso para usar no momento adequado após uma breve relaxada no banheiro mais próximo.

Pode ser que só escreva coisas que não interessem a ninguém (talvez nem a mim mesma): em outras palavras, só escreva merda mesmo... Ou desenvolva um novo método de interpretação de mundo que revolucionará a ciência, a filosofia, a antropologia, a tecnologia, a arte, a psicologia, a psiquiatria, a teologia e a culinária! E por isso receba um prêmio milionário!


Aí poderei pagar um profissional extremamente especializado em ouvir blablablá de perturbados mentais e chatos de todo o tipo.
Se isso acontecer - o que acho muito difícil - prometo parar de escrever aqui e ficar enchendo os ouvidos da tal criatura com qualquer balela que eu ache que valha a pena. Até acabar com cada centavo da minha grana.
É que eu falo pra caralho!